Um estudo europeu concluiu que a exposição prolongada à poluição do ar foi responsável pelo acréscimo de 15% das mortes por Covid-19 em todo o mundo.
Os resultados foram publicados na noite de segunda-feira (26) no jornal da Sociedade Europeia de Cardiologia.

Esta é a primeira vez que cientistas estimam a proporção de mortes que podem ser atribuídas à baixa qualidade do ar em todo o mundo.
Os resultados são baseados em dados epidemiológicos coletados até a terceira semana de junho de 2020 e os pesquisadores dizem que uma avaliação abrangente precisará ser feita depois que a pandemia diminuir.
No Brasil, o artigo aponta que esse índice foi de 12%, o que significa que das 49.976 mortes até o fim da terceira semana de junho, cerca de 6 mil podem ter sido de pessoas que viviam em cidades com altos níveis de poluição.
Índices pelo mundo 5y5r1y
Em nível regional, na Europa, 19% das mortes por Covid-19 podem ter relação com a poluição a longo prazo; na América do Norte, 17%; e no leste asiático, 27%.
Segundo o artigo, esses percentuais são “frações de mortes por Covid-19 que poderiam ser evitadas se a população fosse exposta a níveis mais baixos de poluição do ar, sem emissões de combustíveis fósseis e outros antropogênicos [causados por humanos]”.
Piora em quadros respiratórios 5w6u2z
O grupo observa que esta “fração atribuível não implica em uma relação direta de causa-efeito entre a poluição do ar e a mortalidade por Covid-19” (embora seja possível).
A pesquisa aponta a poluição como desencadeadora ou agravante de doenças respiratórias. Com isso, pessoas que já sofrem com o ar ruim das grandes cidades podem ter complicações desses quadros quando infectadas pelo coronavírus.
“Quando as pessoas inalam o ar poluído, as partículas muito pequenas, as PM2.5, migram dos pulmões para o sangue e vasos sanguíneos, causando inflamação e estresse oxidativo severo, um desequilíbrio entre radicais livres e oxidantes no corpo que normalmente repara os danos às células. Isso danifica o revestimento interno das artérias, o endotélio, e leva ao estreitamento e enrijecimento das artérias. O vírus da Covid-19 também entra no corpo através dos pulmões, causando danos semelhantes aos vasos sanguíneos”, explica um dos autores do estudo, o professor Thomas Münzel, da Universidade Johannes Gutenberg, na Alemanha.
Münzel acrescenta que o material particulado “parece aumentar a atividade de um receptor na superfície das células, chamado ACE-2, que é conhecido por estar envolvido na maneira como o SARS-CoV-2 infecta as células”.
“Portanto, temos um ‘duplo golpe’: a poluição do ar danifica os pulmões e aumenta a atividade da ACE-2, o que, por sua vez, aumenta a absorção do vírus pelos pulmões e provavelmente pelos vasos sanguíneos e pelo coração.”