A defensora pública Caroline Köhler Teixeira compareceu à Penitenciária da Agronômica, em Florianópolis, poucas horas após o incêndio que atingiu uma cela da Ala de Adaptação do complexo, na quarta-feira (15). A visita rendeu um relatório detalhado sobre o que ela presenciou no local.

A defensora diz que logo na chegada se deparou com ambulâncias e viaturas da Polícia Penal se deslocando em direção a hospitais e muitos familiares aglomerados em busca de notícias de parentes presos.
Ela menciona que realizou a vistoria acompanhada da juíza de Direito e da promotora de Justiça da Vara de Execuções Penais da Comarca da Capital.
Os três presos que morreram vítimas do incêndio ocupavam a cela 22 -destinada à população LGBTQIAP+ – da Ala de Adaptação. Eles teriam colocado o colchão apoiado na porta e ateado fogo nele.
Conforme o relatório da defensora, as equipes que atenderam a ocorrência encontraram dificuldades para ar as celas, “já que, em virtude do excessivo calor, as portas, feitas de chapas de metal e também os cadeados das celas, dilataram e emperraram”.
Ainda de acordo com o texto, foi necessário cortar mais de 12 cadeados com alicates para que fosse possível abrir as portas.
“São 22 celas no total. Vinte delas são para 2 presos cada uma. Apenas as celas 08 e 15 contam com 4 vagas cada. A capacidade do setor, portanto, é de 48 vagas. No dia de hoje, ali havia 46 presos, os quais foram sendo retirados das celas e encaminhados para uma triagem prévia na Unidade Básica de Saúde que fica no Complexo e bem próxima à Ala de Adaptação.”, descreve a defensora.
Foi relatado que 43 presos que estavam na Ala de Adaptação foram encaminhados a hospitais para avaliação médica e seis deles precisaram permanecer nas unidades. Além disso, cerca de seis policiais penais também precisaram de atendimento médico por terem inalado muita fumaça enquanto faziam o resgate dos presos.
A limpeza da Ala de Adaptação foi realizada pelos presos ‘regalias’ do semiaberto. Segundo a defensora, apesar das manchas pretas, não se verificou dano aparente na estrutura da unidade.
Contato com familiares 3m3y5r
Na reta final da visita houve o contato com familiares de detentos. A juíza da Vara de Execuções Penais informou sobre os óbitos e feridos e “deixou claro que não se tratou de ‘rebelião’, mas de questão específica da cela ’22’, que será averiguada em procedimento próprio.”
A divulgação da lista de todos os presos que estavam na Ala de Adaptação no momento do incêndio teria ajudado a “apaziguar os ânimos” dos familiares, segundo a defensora. A juíza também informou que interditaria uma parte das celas da Ala de Adaptação.
Outro incêndio apontou problemas no setor 4013f
A defensora finaliza o relatório da visita relembrando outro incêndio que ocorreu no setor em 27 de julho de 2022, que motivou a realização de vistorias específicas.
“Foram pontuados diversos problemas na Ala em questão, especialmente as indesejadas condições de insalubridade, em grande parte decorrentes da reduzida dimensão das janelas das celas e do emprego de portas de chapa de metal, fatores que muito prejudicam a ventilação e a iluminação dos cubículos. Felizmente, no ano ado o incêndio não deixou vítimas fatais. Desta vez, a situação toda se agravou, mas poderia ter sido muito pior, não fosse a rápida ação dos policiais penais e de todos os outros profissionais envolvidos, embora no início do incêndio houvesse apenas 1 (um) policial penal na Ala de ‘Adaptação'”, conclui.
Leia o relatório na íntegra: 653aa
“A visita foi motivada em razão da notícia de ocorrência de um incêndio da Penitenciária de Florianópolis/SC. O fato teria ocorrido por volta das 12h30min, mas a signatária só pode se deslocar à unidade prisional após o fim das audiências de apresentação da Vara de Execuções Penais da Capital/SC.
No trajeto, por volta das 15h00min, deparamo-nos com algumas ambulâncias e várias viaturas da Polícia Penal, no fluxo contrário de veículos, provavelmente em direção a hospitais, o que foi posteriormente confirmado pelos Policiais Penais.
Chegando à Penitenciária, vimos muitos familiares aglomerados em busca de notícias de parentes presos, sendo que o “Choque” da Polícia Militar fazia um cordão bem em frente ao portão de veículos, a fim de impedir a agem de pessoas.
Poucos minutos depois, chegaram a Juíza de Direito e a Promotora de Justiça da Vara de Execuções Penais da Comarca da Capital/SC, e realizamos a vistoria de forma conjunta. Fomos acompanhadas pelo Gestor da Penitenciária e também obtivemos auxílio de muitos policiais penais, que nos prestaram informações.
Relataram-nos que os três presos que ocupavam a cela 22 (destinada à população LGBTQIAP+) da Ala de Adaptação teriam colocado o colchão apoiado na porta e ateado fogo a ele. Tão logo perceberam a fumaça, iniciaram os procedimentos para esvaziar o local e chamaram apoio dos Bombeiros, SAMU e demais órgãos.
Porém, encontraram muitas dificuldades para ar as celas, já que, em virtude do excessivo calor, as portas, feitas de chapas de metal (vide imagem abaixo), e também os cadeados das celas, dilataram e emperraram. Segundo informações, foi necessário cortar mais de 12 cadeados com alicates para que fosse possível abrir as portas.
São 22 celas no total. Vinte delas são para 2 presos cada uma. Apenas as celas 08 e 15 contam com 4 vagas cada. A capacidade do setor, portanto, é de 48 vagas.
No dia de hoje, ali havia 46 presos, os quais foram sendo retirados das celas e encaminhados para uma triagem prévia na Unidade Básica de Saúde que fica no Complexo e bem próxima à Ala de Adaptação.
Os três presos que ocupavam a cela 22, apesar das manobras de ressuscitação realizadas pelos bombeiros, infelizmente, faleceram.
Relataram-nos que os outros 43 presos que estavam na Ala de Adaptação iam sendo encaminhados para a UBS para atendimento inicial e, embora não apresentassem queimaduras e nem aparentes problemas graves, foram encaminhados a hospitais para avaliação médica.
Informações obtidas no fim do dia dão conta de que seis presos precisaram permanecer em Hospitais – um no Florianópolis e outros cinco no Celso Ramos.
Cerca de 6 policiais penais também precisaram ser encaminhados para unidades hospitalares, por terem inalado muita fumaça enquanto faziam o resgate dos presos.
Acorreram ao local, para prestar auxílio, não só o Corpo de Bombeiros, que foram os primeiros a chegar, mas também o SAMU, o “Choque” da Policia Militar, a Polícia Científica de Santa Catarina, o Grupo Tático de Intervenção da Secretaria de istração Prisional e também vários policiais penais e servidores de saúde das outras unidades do Complexo.
Na vistoria in loco, havia restos de material queimado já na entrada na Ala de Adaptação. Naquele momento não havia mais nenhum preso no setor e já estava sendo realizada a limpeza pelos presos ‘regalias’ do semiaberto.
O cheiro da fumaça estava ainda muito forte.
A cela 22 é a primeira da “Ala Norte”, fica logo após o setor de ‘segurança’. Na imagem acima, é a primeira à direita. A cela em questão estava escura não só em razão dos resquícios de fumaça mas também porque não havia luz.
De todo modo, olhando do corredor, apesar das manchas pretas, não se verificou dano aparente na estrutura da unidade, o que teria inclusive sido avaliado, segundo informações, pela Polícia Científica e pelo Corpo de Bombeiros.
No momento final da visita, descemos para conversar com familiares. Solicitou-se que três representantes de familiares se voluntariassem para que obtivessem informações e depois reassem às demais pessoas.
De partida, por determinação do Secretário de istração Prisional, foram comunicados os nomes dos presos mortos (dois de outros Estados e o outro catarinense). A Juíza da Vara de Execuções Penais então esclareceu aos familiares escolhidos que o incêndio teria ocorrido em uma ala específica, a Ala de “Adaptação”, não tendo repercutido nas demais. Disse também que havia ocorrido três óbitos e que os outros 43 presos do setor tinham sido encaminhados para atendimento médico e avaliação, mas que nenhum estava com queimaduras ou em situação grave. Assegurou que tomaria medidas no sentido de que os presos não retornassem aos locais comprometidos (não estruturalmente) pelo fogo. Também deixou claro que não se tratou de ‘rebelião’, mas que questão específica da cela “22”, que será averiguada em procedimento próprio.
As três mulheres então solicitaram como poderiam ter informações dos feridos. Então, logo depois, foi divulgada pela istração Prisional a lista de todos os presos que estavam na Ala de Adaptação no momento do incêndio, que contribuiu para o apaziguamento dos ânimos.
Ainda antes do término da visita, a Juíza da VEP informou que interditaria uma parte das celas da Ala de Adaptação. De fato, no mesmo dia dos fatos, editou-se a Portaria no 03/2023 – VEP, que interditou as celas 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21 e 22 e ainda LIMITOU o número de vagas nas celas restantes: as celas 01, 02, 03, 04, 05, 06, 07 e 09 ficaram restritas a 2 presos casa e a cela 08, por ter maiores dimensões, a 4 presos.
No mesmo ato, determinou-se a instauração de procedimento no Eproc para acompanhamento da interdição e tomadas de outras providências.
Por fim, é preciso dizer que outro incêndio já ocorreu no setor em 27/07/22, o que motivou a realização de vistorias específicas (Relatórios de Inspeção no 06/2022 e no 07/2022), nas quais foram pontuados diversos problemas na Ala em questão, especialmente as indesejadas condições de insalubridade, em grande parte decorrentes da reduzida dimensão das janelas das celas e do emprego de portas de chapa de metal, fatores que muito prejudicam a ventilação e a iluminação dos cubículos.
Felizmente, no ano ado o incêndio não deixou vítimas fatais. Desta vez, a situação toda se agravou, mas poderia ter sido muito pior, não fosse a rápida ação dos policiais penais e de todos os outros profissionais envolvidos, embora no início do incêndio houvesse apenas 1 (um) policial penal na Ala de “Adaptação””.