‘The Last of Us’: fungo que ‘zumbifica’ pessoas em série existe em Santa Catarina h2d

Especialista em fungos conversou com o ND+ e esclareceu alguns mitos que cercam a série "The Last of Us", que está em alta no universo da cultura pop 5l484w

Estreou em janeiro de 2023 a aclamada adaptação da duologia “The Last of Us”. Porém, embora tudo na série não e de ficção, existe um “fundo de verdade” que ainda assombra fãs da obra.

Trata-se do Cordyceps, um gênero de fungo que se instala  e “zumbifica” seu hospedeiro. O fato é que o fungo existe de verdade e pode ser encontrado em Santa Catarina.

The Last of Us: fungo infecta e “zumbifica” pessoas – Foto: Divulgacão/Observatório do Cinema/NDThe Last of Us: fungo infecta e “zumbifica” pessoas – Foto: Divulgacão/Observatório do Cinema/ND

No entanto, não é tão simples explicar os fundamentos por trás do fungo. Por isso, o ND+ procurou um especialista no assunto, o professor  Elisandro Ricardo Drechsler dos Santos, principal coordenador da iniciativa MIND.Funga, da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).

O docente tem experiência nas áreas de Botânica e Microbiologia, especificamente em Micologia, com ênfase em Sistemática e Ecologia de macrofungos poliporoides (que possuem estruturas reprodutivas visíveis a olho nu) e entomopatógenos (Cordyceps s.l.), os quais podem parasitar insetos, matando-os ou incapacitando-os.

Afinal, o que são os fungos do gênero “Cordyceps”? 34p5o

De acordo com Elisandro, até pouco tempo atrás esses fungos que atacam e controlam insetos eram praticamente todos classificados como sendo do gênero Cordyceps. Porém, estudos mais atuais mostraram que existem diversos novos gêneros e famílias que diferenciam essas espécies.

“Os fungos que infectam insetos e controlam seu comportamento, como as formigas zumbis por exemplo, estão atualmente classificados no gênero “Ophiocordyceps” e não mais em Cordyceps. Ou seja, ainda hoje o termo Cordyceps é usado para se referir aos fungos Entomopatógenos. Mas a diversidade é muito maior. Foi necessária uma readaptação em novos gêneros e até famílias. Os que causam a “zumbificação” dos insetos estão em sua maioria no grupo dos fungos Ophiocordyceps. E esse processo de controle do hospedeiro é muito importante para que o fungo consiga desenvolver a parte reprodutiva do seu ciclo de vida”.

“Zumbificação” e reprodução do fungo 4j3x4d

Segundo o professor Elisandro, basicamente o fungo contamina o inseto e se desenvolve dentro do corpo do hospedeiro.

“Assim, ele domina todo o corpo do inseto e produz substâncias de forma precisa junto às articulações do corpo do inseto, que controlam seus movimentos e o hospedeiro a então a ser um “zumbi”.

“No caso das formigas, de modo geral, o fungo se instala e cresce em partes específicas que estão mais relacionadas com o sistema nervoso para fazer a manipulação do organismo do hospedeiro. Ou seja, depois de alguns dias de infecção, o fungo  ataca a musculatura da formiga”, explica Elisandro.

Foto: Pexels/Reprodução/NDFoto: Pexels/Reprodução/ND

“É o caso, por exemplo, de quando a formiga se prende pela mandíbula em uma folha. Ela fica com a mandíbula travada porque o fungo atacou a musculatura envolvida na mandíbula. Essa parte do desenvolvimento  (fenologia) do fungo acontece após mais de uma semana de infecção. Depois de a formiga ter travado sua mandíbula, o fungo se desenvolve mais, por todo o corpo do inseto, e acaba produzindo uma estrutura mais para fora do esqueleto do inseto. Nessas estruturas, muitas vezes na forma de uma antena, são produzidos esporos, que são ejetados no ar e infectam novas formigas”, explica.

“Então, o processo da infecção até a produção de esporos leva algumas poucas semanas”, diz o especialista.

O Cordyceps pode infectar seres humanos? 732019

Elisandro é bem direto e claro em relação a esta possibilidade, afirmando que “não, não existe nenhuma possibilidade de um “apocalipse”. Não existe a menor possibilidade destes fungos que são especialistas em formigas, arem a atacar humanos”.

“Essa relação que existe entre os “Ophiocordyceps” que fazem o controle de comportamento de seus hospedeiros, sendo formigas ou outros insetos, são associações que já existem há muito tempo, milhares e milhares de anos”, explica o professor.

“Então, são produtos da evolução, e minimamente estamos cerca de 50 milhões de anos de distância. Um “Cordyceps” que ataca insetos simplesmente atacar e controlar o comportamento de um mamífero, ou um ser humano é algo que só existe na ficção científica mesmo”.

Descoberto em Santa Catarina 67475i

O professor Elisandro conta que “aqui em Santa Catarina, nos ecossistemas naturais da Mata Atlântica, como por exemplo nas matas de nebulares da Serra catarinense, existem espécies de fungos entomopatógenos ainda por serem descritas pela ciência. Ou seja, são espécies novas ainda não catalogadas que estão sendo descobertos por pesquisadores da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), do grupo de pesquisa MIND.Funga“.

Nova espécie do gênero Ophiocordyceps encontrada no Parque Nacional de São Joaquim. – Foto: MIND.Funga/UFSC/ReProdução/NDNova espécie do gênero Ophiocordyceps encontrada no Parque Nacional de São Joaquim. – Foto: MIND.Funga/UFSC/ReProdução/ND

“Essas interações entre fungos e insetos são verdadeiras obras-primas da evolução, ou seja, são relações estabelecidas há milhares de anos e se mantêm até os dias de hoje de forma específica. Diante dessas descobertas, os cientistas perceberam a oportunidade de envolver pessoas do entorno das áreas de estudo, como o Parque Nacional de São Joaquim”, explica.

“Os pesquisadores desenvolveram ações onde professores, estudantes e toda a sociedade pudesse participar de uma votação online para dar um nome a uma das espécies novas. Também foi publicado um livro infantil para divulgar a história dos fungos e formigas e popularizar a ciência.”

MIND.Funga m2r73

O MIND.Funga tem o objetivo responder a questões científicas que levam ao desenvolvimento de pesquisas de curto e longo prazo, especialmente em áreas pouco exploradas e ameaçadas. Para isso, utiliza uma abordagem integrativa (taxonomia, filogenia molecular, ecologia, metagenômica, etc.) em estudos com macro e microfungos.

O MIND.Funga é coordenado pelo Laboratório de Micologia da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), MICOLAB/UFSC (Brasil).

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