Uma revolução quase silenciosa acontece no Norte da Ilha, mais especificamente no Sapiens Parque, onde a fábrica da Nanovetores está instalada. A empresa que tem como diretora técnica e cofundadora Betina Giehl Zanetti Ramos, produz oito toneladas de produtos/dia com componentes que, além da cosmética, podem ser usados no mercado têxtil, calçados, odontológico, alimentício e hospitalar, etc, e exporta para 26 países distribuídos nos cinco continentes.

Sem perder a essência, com foco na biodiversidade e usando como solvente a água, Betina desenvolveu a arte de encapsular os ativos com material natural e biodegradável aumentando a eficácia dos produtos, proporcionando um resultado de longa duração e o sucesso de um processo produtivo inovador em escala global. Sim, existem produtos eficazes para a perda de medidas, para a celulite, para o rosto, unhas, cabelo, protetor solar, para cravos e espinhas, curativos para queimadura, etc., com tecnologia de ponta produzida aqui em Santa Catarina.
Betina nasceu em São Miguel do Oeste, inspirada por uma farmacêutica trabalhava numa farmácia de manipulação em sua cidade natal. Conta que desde criança gostava de macerar as plantas e que sonhava um dia ser também farmacêutica e ter seu próprio negócio no Oeste do Estado. Em busca desse sonho veio para Florianópolis para estudar farmácia na Universidade Federal de Santa Catarina. Cumprindo a trajetória de uma vida acadêmica, trabalhou como bolsista de iniciação científica, graduou-se em farmácia, fez mestrado, doutorado e pós-doutorado, período fundamental para estudo sobre como encapsular ativos e obter maior eficácia dos produtos. Mas quando a vida apontava para a continuidade da vida acadêmica e pela vaga conquistada num concurso para professora do IFSC(Instituto Federal de Santa Catarina), incentivada pelo marido Ricardo Henrique Ramos, diretor-presidente e sócio dela na Nanovetores, optou por se transformar num case bem-sucedido do ecossistema catarinense de tecnologia. A trajetória de Betina e da Nanovetores confirma a importância da pesquisa científica e dos excelentes resultados da parceria universidade e mercado de inovação.
A entrevista começou com demonstração prática da eficácia dos componentes da Nanovetores voltados ao mercado da dermocosmética. Porque para uma empreendedora e cientista, não há nada mais importante do que mostrar o resultado comercial de sua pesquisa.
Confira a entrevista:
Como surgiu a vocação para estudar farmácia?
Nasci e me criei em São Miguel do Oeste. Desde pequena eu gostava muito de brincar com plantas. Eu pegava as plantinhas, picava, deixava macerando. A inspiração era a farmácia magistral, aquela farmácia que manipula o medicamento, que usa as plantas com ativos. Então eu decidi estudar e depois voltar para São Miguel para montar uma farmácia de manipulação. Durante a graduação eu recebi o convite de um professor para trabalhar com iniciação científica. Então, terminando a graduação eu me encaminhei para o mestrado, fiz também uma especialização em biossegurança, depois segui para o doutorado na UFSC, mas com tutela na França. E por fim o pós-doutorado, época em que montamos a Nanovetores. Naquele mesmo período fiz concursos e fui chamada para dar aula no IFSC. Fiquei em dúvida entre o emprego público que ia me dar estabilidade e ser uma empreendedora no início de um processo de estruturação de empresa, com muitos desafios, muitos gastos e praticamente sem nenhum retorno. Conversando com o Ricardo, meu marido e sócio, ele disse para apostar porque era uma área muito inovadora, uma tecnologia que não existia no Brasil, o mercado é promissor. Então, apostamos.
Como é trabalhar e ter o marido como sócio?
Nós trabalhamos muito bem juntos. Funciona bem e eu tenho visto muitos casais que empreendem juntos e isso tem dado bons frutos. Muitas vezes a gente procura um parceiro, um sócio distante e quando a gente vê o companheiro/marido tem uma aptidão que complementa e pode gerar um negócio. Ele é formado em istração e sempre foi empreendedo, então faz toda a parte de business. Eu me ocupo da parte técnica, do produto.
Como nasceu o viés para trabalhar dentro de uma linha mais natural?
Em todos os meus trabalhos de mestrado e doutorado sempre busquei trabalhar com tecnologias mais naturais, que não usassem solventes orgânicos. Uma linha salutar, livre dessa preocupação com o uso de solventes orgânicos. Isso fez muita diferença no doutorado, pois eu levei para a França uma síntese de um produto todo feito em água e eu estava em um laboratório onde só se usava solventes fortíssimos. Isso chamou atenção dos professores. E quando montamos a Nanovetores, este foi um dos pilares que nós escolhemos. O nosso processo produtivo não tem nada de solvente orgânico pesado. Isso também é importante para quem trabalha com a gente e também para o nosso consumidor, que tem produtos seguros. Eu entendo que essa escolha que nós fizemos lá no início – de ter isso no DNA da empresa – hoje nos facilita na abertura do mercado internacional. Processos mais seguros e mais limpos facilitam a demonstração do quão seguro é a Nanotecnologia. Por isso já estamos nos cinco continentes e exportando para 26 países.
Como foi a abertura no mercado internacional?
A nossa participação no mercado internacional começou com a participação em feiras. Existe uma feira chamada In-cosmetics, a maior feira global de cosméticos. Então serve para dar visibilidade, para fazer uma rede de distribuidores em vários países. Nos primeiros anos nós íamos mais nessa feira internacional para vender mais para os brasileiros do que qualquer outra coisa. Como o nosso crescimento é muito forte e o Brasil – no seguimento de cosmético – tem o terceiro maior mercado consumidor, então atuar no Brasil já nos deixa satisfeitos.
E quanto ao futuro da Nanovetores: a empresa continua no Brasil?
Nós começamos na incubadora Celta, da Fundação Certi. Tivemos incentivos importantes, por isso nossa intenção é ficar por aqui. Temos um terreno no Sapiens Park e nossa meta é começar a construir um prédio próprio para a Nanovetores. Nós dimensionamos muito bem o ciclo produtivo, aperfeiçoamos todos os tempos e ganhamos em performance de produção. Abrimos uma unidade comercial e fechamos parceria com um distribuidor nos Estados Unidos, mas a produção é toda feita aqui. Também recebemos proposta com subsídios para abrir uma sede na Suíça. A ideia é ficar aqui, mas atentos às possibilidades de quem sabe abrir uma unidade fabril na Suíça como estratégia para a Europa.