Para quem depende do transporte coletivo de Florianópolis, o TICEN (Terminal do Centro) é agem obrigatória. Posicionado ao lado do Mercado Público, o local recebe milhares de pessoas diariamente. É ali, também, a base de trabalho da motorista Cleia Ros de Souza.

Aos 51 anos, Cleia é funcionária do transporte público desde os 36. Para ela, o ônibus que dirige diariamente é como um cavalo alazão que galopa pelas ruas e rodovias. Geralmente, leva os ageiros da linha Corredor Continente aos seus destinos, rodando cerca de 80 quilômetros diários.
Mesmo tendo começado a direção no transporte público após os 30 anos, a motorista conta ser apaixonada pela área desde a infância. “Sempre fui aquela pessoa que roubava o carro do pai com 10 anos. No dia que fiz 18 fui logo fazer a carteira”, conta Cleia divertida.
Antes de começar na função, Cleia foi motorista de transporte escolar e precisou fazer a carteira D – específica para conduzir veículos de transporte que acomodam mais de oito ageiros. Depois, ou a trabalhar como vendedora de calçados e, quando se dirigia à loja em um ônibus de Biguaçu, descobriu a possibilidade de ser motorista.
“Quando entrei dentro do ônibus e vi uma mulher, eu falei: meu Deus, me achei. Na época não era comum ver mulheres dirigindo”.
Logo, a experiência como vendedora de calçados acabou e Cleia foi demitida, o que impulsionou a decisão de seguir a carreira dos sonhos.
Após a demissão, o primeiro o foi buscar a empresa de transporte de ageiros em Biguaçu. Ela sabia quem era o responsável e exigiu que a conversa fosse com ele. Se apresentou, contou da experiência com transporte escolar e pediu para fazer o teste. “Eu ei na primeira, foi uma bênção de Deus”.
“Se fosse um homem, eles não comentariam” 3d3e2e
De Biguaçu a Florianópolis, Cleia conta ter ouvido alguns comentários duvidosos. Algumas vezes, ao deixar o ônibus, a motorista conta que ageiros paravam para destinar à ela aprovação pelo trabalho.
Outras vezes, enquanto dirigia, outras pessoas palpitavam sobre a direção: “Você não está vendo isso ali?”. Cleia, às vezes, responde: “eu vi, estou aqui. Acho que estou enxergando bem. Faz 15 anos que trabalho aqui e sei o que estou fazendo”.
“Se fosse um homem, eles não comentariam. Mas como é uma mulher, funciona assim com coisas óbvias. Não estou negligenciando. É por isso que trabalho aqui”, comenta.
De qualquer modo, afirma que a empresa responsável pelo transporte público valoriza a participação das mulheres em cargos como de motoristas e cobradoras.
Segundo Cleia, além dela, mais três mulheres exercem cargo de motorista na companhia. Por serem dados que, segundo a assessoria de imprensa do Consórcio Fênix, levam alguns dias para serem coletados, a empresa não pôde informar o número de funcionárias até a publicação desta reportagem.
Um trabalho em dupla 5y5o6n
Sandra Maria de Lima tem 57 anos e atua como cobradora de ônibus há sete, além de ser fiel escudeira de Cleia desde meados de 2021. As duas fazem juntas as viagens e, enquanto uma dirige, a outra está encarregada de fazer as cobranças das agens e dar informações aos ageiros.

Enquanto conta sua história, sentada no movimentado Ticen, é perceptível que Sandra tem habilidade com informações e sempre sabe por onde o ageiro pode seguir para chegar ao destino.
Durante sete minutos, foi chamada por pessoas que avam no local pelo menos três vezes. “Você sabe se esse a lá no Fort Atacadista?”.
Para ela, esse contato é bom e, algumas vezes, precisa chamar a atenção de quem está no ônibus para, por exemplo, usar a máscara.
Mudança de funções 2s3967
Florianópolis a por um processo de mudança e digitalização na forma de cobrança das agens do transporte público. Com elas, alguns cobradores estão saindo dos cargos e fazendo carteira de motorista, além de outros condutores que fazem sozinhos os recebimentos das taxas.
Sandra pretende continuar no cargo enquanto a motorista reforça para a companheira em tom divertido: “Oh, faz favor, fica aí. Não me abandona não!”.