Flertar é a principal via de o para uma nova relação, sobretudo quando estamos solteiros. Mas em um relacionamento sério, a convenção social ensina que o flerte deve se direcionar apenas à pessoa com quem nos relacionamos. Mas será que todo mundo consegue abrir mão de “paquerar” outras pessoas?

Uma adolescente, que não será identificada por ser menor de idade, namorava há um ano um rapaz. O relacionamento dos dois era muito recíproco e consolidado na lealdade, porém, certo dia, o namorado descobriu que a menina flertava com outras pessoas.
“Sempre fui muito brincalhona, eu flertava com as pessoas na brincadeira. Meu ex acabou descobrindo e não entendeu esse meu lado. Tivemos desentendimentos que levaram ao fim desse relacionamento”, conta a adolescente.
Ela atribui o fim do namoro à falta de diálogo sobre o comportamento. “A gente nunca conversou sobre poder flertar com outras pessoas, então, o combinado era que os dois seriam fiéis um ao outro”, finaliza.
Por que gostamos do flerte? 141q72
Segundo o psicanalista Leonardo Moraes, devemos ver o que está por trás do flerte, uma vez que o ato significa desejar algo que não temos. E desejar é algo natural do ser humano.
Quando a pessoa que flerta está em relacionamento sério, é comum que as pessoas emitam opinião ou julgamento antes mesmo de tentar entender o motivo da ação. As reações variam de “fulano está arrasando” a “mas é sem vergonha!”.
De acordo com Leonardo, nas relações monogâmicas, aquelas em que uma pessoa tem apenas um parceiro, esses flertes ocorrem por diferentes razões: levantar a autoestima, a necessidade da conquista, a aventura perdida no cotidiano do relacionamento e o desgaste da própria relação.
Quando o flerte pode ser considerado traição? 6l5i4n
O ex-namorado da adolescente interpretou o “flerte de brincadeira” como traição. Se é traição ou não, o psicanalista esclarece que depende do combinado. “O mais importante aqui é definir exatamente as regras do casal, ou seja, o que pode, até onde pode e, fundamentalmente, o que não pode”.
Uma mulher, hoje com 40 anos, que pediu para não ser identificada, contou a história do seu primeiro relacionamento sério. Há 25 anos, ela começou a namorar seu amigo de infância, no entanto, ele nunca foi muito confiável.
Em vários momentos o ex-namorado, intitulado como “galinha“, chegava a flertar com outras mulheres na frente da namorada. Ela conta que não aceitava certas atitudes e encarava os flertes como traição. “A traição não começa só quando você beija ou vai para a cama com alguém. Para mim, começa nas conversas mal intencionadas”, conta a mulher.
“Nunca chegamos a conversar sobre até onde poderíamos ir, só que se você está com alguém, você tem que ser fiel, a não ser que combinem algo diferente. Mas como eu era fiel e não flertava com outras pessoas, esperava que ele também fosse comigo”, acrescenta.
O especialista lembra que o termo traição pode ser definido como “qualquer quebra de acordo pré-estabelecido”. Ou seja, quando entramos em um relacionamento monogâmico “assinamos” um acordo de fidelidade eterna e colocamos que todos os nossos desejos e fantasias serão satisfeitos por uma única pessoa: o companheiro.
Porém, esse pré-acordo não acontece em 100% dos casos. “Desejamos e fantasiamos diariamente com as mais diferentes pessoas, situações e objetos. Os casais que entendem isso e se utilizam disso para alimentar a sua relação, flertar pode não ser considerado traição”, explica Leonardo.
‘Pessoas comprometidas já flertaram comigo’ 2u6y3y
A farmacêutica Brenda Tavares, de 26 anos, conta que já recebeu flertes de pessoas comprometidas. “Às vezes não entendo o porquê disso. Mas sim, já recebi flertes de pessoas que estavam comprometidas. Claro que eu sempre dou foras, mas acho isso muito engraçado”, diz.
Em uma reportagem do ND+ sobre flertes em baixa, a psicóloga Vanessa Cardoso contou que em algumas situações muitas pessoas trocam olhares com outras, mesmo comprometidas, apenas para sentirem o gostinho de serem notados.
“Às vezes, a pessoa está em um relacionamento sério, mas faz questão de flertar para saber se ainda é desejável, se está no jogo”, disse Vanessa na reportagem.
Mas como as pessoas devem agir diante deste comportamento? O psicanalista Leonardo explica que depende muito do ponto de vista de quem recebe o flerte.
“O fundamental é saber exatamente o que quer, quais são os seus valores, o que estou buscando com aquela situação? Antes de aceitar ou não o flerte é bom entender quais as circunstâncias daquela ação, quais as intenções e concessões feitas dentro daquele relacionamento”.
O especialista diz ainda que o flerte de uma pessoa comprometida nem sempre denota que ela é uma “sem vergonha”, tampouco que ela está para se separar ou que o relacionamento dela não é bacana.
“O ‘agir’ então, a mais por entender a situação do casal, entender as intenções de quem flerta, saber dos meus valores e minhas reais intenções ao aceitar, recusar, fugir ou retribuir o flerte. Feita essa reflexão, reforço a necessidade de se questionar as próprias intenções e valores ao retribuir ou não o flerte”, finaliza.