O escritor Salim Miguel, que morou entre 1927 e 2014 em Santa Catarina, morreu nesta sexta-feira (22) em Brasília, aos 92 anos. Ele estava internado desde o dia 7 de abril no hospital Santa Luzia, com uma broncopneumonia, e ou 15 dias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva). O escritor morava há dois anos na capital federal, onde estão três de seus cinco filhos. Em 2012, ele teve um acidente vascular cerebral e sofreu uma queda em sua casa, em Florianópolis, foi internado e chegou a entrar em coma, mas recuperou-se, embora com sequelas. Ele será cremado em Brasília e parte das suas cinzas ficarão na Capital Federal. Outra parte virá para Florianópolis nos próximos dias, quando haverá uma homenagem feita pelos amigos e familiares. A data para essa cerimônia ainda não foi confirmada, mas deverá acontecer em maio.
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Salim nasceu em Kfarsouroun, no Líbano, em janeiro de 1924 e veio para o Brasil com três anos. Seus pais se instalaram em Biguaçu, na Grande Florianópolis, onde o filho cresceu – e onde ambientou uma boa parte de sua obra literária. O primeiro livro, “Velhice e outros contos”, foi publicado em 1951. Ao lado de Eglê Malheiros, professora, ensaísta e escritora, e de outros intelectuais da Ilha de Santa Catarina, criou o Grupo Sul, que revolucionou o meio cultural local com ideias que os modernistas já haviam disseminado nos anos de 1920 no centro do país.
Salim Miguel também fez roteiros para o cinema e participou da realização de “O preço da ilusão”, o primeiro longa-metragem catarinense, na década de 50. Como jornalista, trabalhou na revista “Manchete”, foi crítico literário do “Jornal do Brasil” e militou ao lado de grandes nomes da imprensa e da literatura na edição de suplementos culturais cariocas. Antes de se mudar para o Rio, ele foi preso em Florianópolis em abril de 1964, sob alegação de ter vínculos com opositores ligados ao Partido Comunista.
De volta a Santa Catarina, dirigiu a editora da Universidade Federal de Santa Catarina (EdUFSC), de 1983 a 1991, e a Fundação Franklin Cascaes, braço cultural da Prefeitura Municipal de Florianópolis, de 1993 a 1996.
A trajetória e a produção de Salim Miguel valeram-lhe distinções como o prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras (2010), pelo conjunto da obra, o título de Doutor Honoris Causa da UFSC (2002) e o Prêmio Juca Pato – intelectual do ano, da União Brasileira de Escritores (2002), entre outras. “Nur na Escuridão”, de 1999, rendeu-lhe o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) de melhor romance e o Prêmio Zaffari & Bourbon, dois anos depois, na 9ª Jornada Nacional de Literatura de o Fundo (RS).
O livro “Primeiro de abril – Narrativas da cadeia” foi traduzido para o francês por Luciana Rassier e Jean-José Mesguen em 2007. O último livro que publicou foi “Nós”, série de narrativas policiais, que a EdUFSC lançou em 2015.
Prefeitura de Biguaçu decreta luto oficial
A Prefeitura de Biguaçu divulgou nota, na noite desta sexta-feira (22), lamentando a morte de Salim Miguel. Natural do Líbano, o escritor veio com a família ainda criança para Biguaçu. “Sua obra contribuiu expressivamente para a cultura catarinense e brasileira. Fica decretado no município luto oficial por três dias”, escreve em nota o prefeito Ramon Wollinger.